SANTA
CRUZ, (Recife) Ed. 36, pág. 03; 04/05/1861
AS
MISSÕES EM CAMPINA GRANDE
Nada mais eficaz,
nada mais poderoso, e nada mais edificante, do que a palavra de Deus, anunciada
pelos seus ministros. Ninguém poderá contestar os frutos que resultam destes
trabalhos apostólicos, empreendidos por esses varões santos, que tomam sobre seus
ombros o pesado cargo de trabalhar na vinha do Senhor. Esta vila oferece um
exemplo autentico do que acima digo.
O Revmo. Padre Mestre José
Antônio Pereira Ibiapina, acaba de missionar nesta Matriz, e eu querendo dar um
testemunho de minha gratidão aos serviços prestados por esse varão apostólico,
lanço mão da minha rude pena, para que o público saiba dos relevantes serviços
a esta vila prestados pelo digno missionário. Antes porém, d´o fazer peço a
devida vênia ao mesmo digno missionário, para não ofender a sua grave modéstia,
e sua edificante humildade conhecendo o público, que o não faço por bajulação,
e nem por querer ostentar de escritor público.
No dia sábado 9 do corrente
mês pelas 4 horas da tarde, nesta vila chegou o Revmo. Sr. Padre Mestre José Antônio
Pereira Ibiapina, com o intuito de pregar o Evangelho, sendo acompanhado de um
numero crescido de cavaleiros, que espontaneamente o foram encontrar; e tal é o
seu zelo apostólico, que não obstante os graves incômodos de sua saúde e da
viagem, ele nesse mesmo dia quis missionar, porém conhecendo de sua
impossibilidade o aconselhei que tal não fizesse.
No dia domingo depois de
celebrado o Santo Sacrifício da Missa, quando a aurora começava a espargir os
brilhantes raios do astro luminoso, que preside o dia, depois de ter feito uma
eloquente pratica em honra do Santíssima Virgem, a Senhora da Conceição,
Padroeira desta Matriz, acompanhado de todo o povo, que assistia a este ato
todo grave, tocante e religioso se dirigiu ao lugar destinado para o cemitério
desta vila, e ali com incrível atividade e indizível zelo deu ordem para que
fossem abertos os valados para os alicerces das paredes do mesmo cemitério, o
que o povo prontamente fazendo, conseguiu em
mui pouco tempo esse trabalho, encarregando a administração do mesmo serviço
aos Senhores : Leonel Pedro Américo de Almeida, Major João Cavalcanti de
Albuquerque & Irmão, José Lourenço Porto, Bento Gomes Pereira Luna, e
Antônio Guilhermino de Oliveira Brasil, que se prestaram com gosto e empenho
nesta tarefa.
No mesmo dia domingo às 4 horas da
tarde, depois de cantado o terço, subiu ao púlpito o Revmo. Sr. Padre Mestre, e
pregou um claro e explicito catecismo, onde mostrou inteligência profunda,
humildade crescida, e caridade evangélica; e nos dias consecutivos, todos os
ouvintes foram testemunhas das puras e santas doutrinas enunciadas, pelo digno
missionário, no qual se encontra todos os predicados de um Sacerdote todo cheio
de qualidades não comuns. Apesar do grave incomodo de sua saúde, ele era o mais
diligente, já no púlpito, para pregar o Evangelho, repreender o vício e
consolar os aflitos; já no confessionário ouvindo de
confissão a muitos penitentes e já finalmente no serviço do cemitério, onde
constantemente comparecia para animar o povo ao trabalho, a que se tinha
dedicado, e nem mesmo as poucas horas, que lhe restavam para um pequeno
repouso, ele as desfrutava, porque estas eram empregadas em aconselhar as
discórdias, e em promover a felicidade temporal e eterna de todos, que o ouviam
e procuravam, aplicando pronto remédio a todos os males com excessiva
docilidade.
Quem vir missionar o Revmo. Padre
Mestre Ibiapina, e ler a história da vida de Jesus Cristo verá nele um fiel
discípulo daquele Divino Mestre e um sustentáculo de suas virtudes ortodoxas.
A energia com que repreende, a
docilidade com que aconselha, a eloquência e verbosidade com que explica as
matérias e verdades da doutrina da Igreja; seu espírito vivo e penetrante, sua
alma conciliadora, tudo concorre para que nele se encontre um verdadeiro
apostolo das doutrinas de Jesus Cristo; não poupando esforços e sacrifícios
pessoas para fazer triunfar a religião e plantar o império da virtude.
O povo que assistiu a missão
correspondeu à expectativa dos seus desejos, pois no pequeno tempo de cinco
dias pôde ele conseguir: sendo a conclusão do cemitério, ao menos deixa-lo em
muito bom adiantamento; não se observava a mais pequena negligencia, não se via
destruição, todos alegres concorriam para o serviço, e todos cantando hinos
angélicos carregaram para o cemitério materiais para a sua construção e grande
era o desejo de se mostrar o quanto aqui se prezava um Sacerdote distinto, como
o Revmo. Padre Mestre Ibiapina.
Raiou finalmente o dia de
quinta-feira, dia marcado para o recebimento da benção apostólica (porque era o
último de missão) então se divisava em todos os semblantes um olhar triste e
saudoso pela separação do Sacerdote querido e missionário, todos desejavam que
ele permanecesse por mais tempo entre nós; porém chegando a hora de pregar, quando
apareceu o Revmo. Sr. Missionário, e que fez a sua despedida; então um pranto
geral se observou, e ele cheio de toda a humildade pedia aos seus ouvintes que
lhe perdoassem todos os seus defeitos; e fazendo recomendações sérias sobre o
serviço do cemitério, para o qual havia tirado uma
subscrição, que montou em 500$, se retirou deixando-nos na mais amarga saudade,
e saboreando dos bens, que nos resultou de sua visita nesta freguesia.
Aceite, pois, o Revmo. Sr. Padre
Ibiapinaos votos de profundo agradecimento meu, e de meus paroquianos, que
jamais apagaremos de nossa alma a lembrança do quanto lhe somos devedores.
Queiram, Srs. Redatores dar
publicidade a estas linhas, que muito lhes agradecerá. Vigário Calisto
Correia Nobrega, Campina Grande, 17 de Março de 1861.
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