segunda-feira, 15 de agosto de 2016

As missões de Padre Ibiapina em Campina Grande



SANTA CRUZ, (Recife) Ed. 36, pág. 03; 04/05/1861


AS MISSÕES EM CAMPINA GRANDE

                Nada mais eficaz, nada mais poderoso, e nada mais edificante, do que a palavra de Deus, anunciada pelos seus ministros. Ninguém poderá contestar os frutos que resultam destes trabalhos apostólicos, empreendidos por esses varões santos, que tomam sobre seus ombros o pesado cargo de trabalhar na vinha do Senhor. Esta vila oferece um exemplo autentico do que acima digo.
            O Revmo. Padre Mestre José Antônio Pereira Ibiapina, acaba de missionar nesta Matriz, e eu querendo dar um testemunho de minha gratidão aos serviços prestados por esse varão apostólico, lanço mão da minha rude pena, para que o público saiba dos relevantes serviços a esta vila prestados pelo digno missionário. Antes porém, d´o fazer peço a devida vênia ao mesmo digno missionário, para não ofender a sua grave modéstia, e sua edificante humildade conhecendo o público, que o não faço por bajulação, e nem por querer ostentar de escritor público.
            No dia sábado 9 do corrente mês pelas 4 horas da tarde, nesta vila chegou o Revmo. Sr. Padre Mestre José Antônio Pereira Ibiapina, com o intuito de pregar o Evangelho, sendo acompanhado de um numero crescido de cavaleiros, que espontaneamente o foram encontrar; e tal é o seu zelo apostólico, que não obstante os graves incômodos de sua saúde e da viagem, ele nesse mesmo dia quis missionar, porém conhecendo de sua impossibilidade o aconselhei que tal não fizesse.
            No dia domingo depois de celebrado o Santo Sacrifício da Missa, quando a aurora começava a espargir os brilhantes raios do astro luminoso, que preside o dia, depois de ter feito uma eloquente pratica em honra do Santíssima Virgem, a Senhora da Conceição, Padroeira desta Matriz, acompanhado de todo o povo, que assistia a este ato todo grave, tocante e religioso se dirigiu ao lugar destinado para o cemitério desta vila, e ali com incrível atividade e indizível zelo deu ordem para que fossem abertos os valados para os alicerces das paredes do mesmo cemitério, o que o povo prontamente fazendo, conseguiu em mui pouco tempo esse trabalho, encarregando a administração do mesmo serviço aos Senhores : Leonel Pedro Américo de Almeida, Major João Cavalcanti de Albuquerque & Irmão, José Lourenço Porto, Bento Gomes Pereira Luna, e Antônio Guilhermino de Oliveira Brasil, que se prestaram com gosto e empenho nesta tarefa.
            No mesmo dia domingo às 4 horas da tarde, depois de cantado o terço, subiu ao púlpito o Revmo. Sr. Padre Mestre, e pregou um claro e explicito catecismo, onde mostrou inteligência profunda, humildade crescida, e caridade evangélica; e nos dias consecutivos, todos os ouvintes foram testemunhas das puras e santas doutrinas enunciadas, pelo digno missionário, no qual se encontra todos os predicados de um Sacerdote todo cheio de qualidades não comuns. Apesar do grave incomodo de sua saúde, ele era o mais diligente, já no púlpito, para pregar o Evangelho, repreender o vício e consolar os aflitos; já no confessionário ouvindo de confissão a muitos penitentes e já finalmente no serviço do cemitério, onde constantemente comparecia para animar o povo ao trabalho, a que se tinha dedicado, e nem mesmo as poucas horas, que lhe restavam para um pequeno repouso, ele as desfrutava, porque estas eram empregadas em aconselhar as discórdias, e em promover a felicidade temporal e eterna de todos, que o ouviam e procuravam, aplicando pronto remédio a todos os males com excessiva docilidade.
            Quem vir missionar o Revmo. Padre Mestre Ibiapina, e ler a história da vida de Jesus Cristo verá nele um fiel discípulo daquele Divino Mestre e um sustentáculo de suas virtudes ortodoxas.
            A energia com que repreende, a docilidade com que aconselha, a eloquência e verbosidade com que explica as matérias e verdades da doutrina da Igreja; seu espírito vivo e penetrante, sua alma conciliadora, tudo concorre para que nele se encontre um verdadeiro apostolo das doutrinas de Jesus Cristo; não poupando esforços e sacrifícios pessoas para fazer triunfar a religião e plantar o império da virtude.
            O povo que assistiu a missão correspondeu à expectativa dos seus desejos, pois no pequeno tempo de cinco dias pôde ele conseguir: sendo a conclusão do cemitério, ao menos deixa-lo em muito bom adiantamento; não se observava a mais pequena negligencia, não se via destruição, todos alegres concorriam para o serviço, e todos cantando hinos angélicos carregaram para o cemitério materiais para a sua construção e grande era o desejo de se mostrar o quanto aqui se prezava um Sacerdote distinto, como o Revmo. Padre Mestre Ibiapina.
            Raiou finalmente o dia de quinta-feira, dia marcado para o recebimento da benção apostólica (porque era o último de missão) então se divisava em todos os semblantes um olhar triste e saudoso pela separação do Sacerdote querido e missionário, todos desejavam que ele permanecesse por mais tempo entre nós; porém chegando a hora de pregar, quando apareceu o Revmo. Sr. Missionário, e que fez a sua despedida; então um pranto geral se observou, e ele cheio de toda a humildade pedia aos seus ouvintes que lhe perdoassem todos os seus defeitos; e fazendo recomendações sérias sobre o serviço do cemitério, para o qual havia tirado uma subscrição, que montou em 500$, se retirou deixando-nos na mais amarga saudade, e saboreando dos bens, que nos resultou de sua visita nesta freguesia.
            Aceite, pois, o Revmo. Sr. Padre Ibiapinaos votos de profundo agradecimento meu, e de meus paroquianos, que jamais apagaremos de nossa alma a lembrança do quanto lhe somos devedores.

            Queiram, Srs. Redatores dar publicidade a estas linhas, que muito lhes agradecerá.   Vigário Calisto Correia Nobrega,   Campina Grande, 17 de Março de 1861.

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