Ingresso
definitivo no mundo greco-latino
Com a destruição do
templo e a dispersão dos judeus cessou a pressão interna a partir de Jerusalém,
cuja visão do cristianismo era ainda bastante judaizante, certamente com muitas
reservas a respeito da universalidade, da Igreja e da enculturação da Liturgia.
Com o ingresso
definitivo da Igreja no mundo helenista, destaca-se o seguinte:
-A
fixação de uma festa anual da Páscoa, como atesta no século II a Epistola
Apostolorum, não na data precisa dos judeus (14 nisan), mas no domingo
seguinte (a este respeito houve polêmica entre o Oriente e Ocidente);
-A
Consagração do domingo, conforme Justino, como dia litúrgico, com o
seguinte rito:
Reunião
da comunidade;
Leituras
do Antigo Testamento e do Novo Testamento;
Homilia;
Oração
dos fiéis;
Eucaristia
com Amém;
Distribuição
do pão eucaristizado;
-
O Batismo cristão acompanhado do “catecumenato”;
-
O louvor de Deus nas horas litúrgicas, a partir do costume hebraico de fazê-lo
três vezes ao dia (de manhã, ao meio dia e ao final da tarde);
-
Início da passagem da língua litúrgica do grego para o latim, conforme este foi
se tornando uma língua incompreensível para a maioria das pessoas. Pensa-se que
teria sido o Papa Dâmaso I (366-384) a efetuar definitivamente esta passagem;
-
Passagem do local de culto das casas particulares para as “casas comunitárias”,
das quais o melhor exemplar é a Doura-Europos na Mesopotâmia, construída
nos anos 200 e transformada em 232 em domus ecclesiae, descoberta
recentemente.
Estas casas se
multiplicam em Roma rapidamente. Ottato de Mileto fala de mais 40 delas no
início do século III.
No entanto, este tipo
de construção não depõe contra o acento inicial do “Templo Vivo”, como Igreja,
em contraposição à igreja = templo de pedra, que os cristãos quiseram marcar no
início das suas Liturgias, celebradas em casas particulares. Uma prova disto é
o tipo de arte litúrgica com que ornam Doura-Europos (Adão e Eva, Davi e
Golias, o paralítico, a samaritana, o Bom Pastor) e as catacumbas (o sacrifício
de Isaac, Moisés e a água da rocha, Daniel na cova dos leões, Susana, a
ressurreição de Lázaro, o paralítico, o cego, a mulher doente, a adoração dos
magos, o batismo de Jesus, a multiplicação dos pães, etc). São imagens
bíblicas, lidas tipologicamente na linha da História da Salvação.
Mostram, portanto, uma espiritualidade
profundamente cristológica, cuja interpretação do AT em linha tipológica
de Cristo como o anti-tipo, ou realização plena dos fatos do passado,
vai estabelecendo o cristocentrismo litúrgico que o Vaticano II tenta com toda
energia recuperar através da reforma litúrgica.
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