sábado, 10 de outubro de 2015

Formação litúrgica – parte 3


 Ingresso definitivo no mundo greco-latino
Com a destruição do templo e a dispersão dos judeus cessou a pressão interna a partir de Jerusalém, cuja visão do cristianismo era ainda bastante judaizante, certamente com muitas reservas a respeito da universalidade, da Igreja e da enculturação da Liturgia.
Com o ingresso definitivo da Igreja no mundo helenista, destaca-se o seguinte:
-A fixação de uma festa anual da Páscoa, como atesta no século II a Epistola Apostolorum, não na data precisa dos judeus (14 nisan), mas no domingo seguinte (a este respeito houve polêmica entre o Oriente e Ocidente);
-A Consagração do domingo, conforme Justino, como dia litúrgico, com o seguinte rito:
Reunião da comunidade;
Leituras do Antigo Testamento e do Novo Testamento;
Homilia;
Oração dos fiéis;
Eucaristia com Amém;
Distribuição do pão eucaristizado;
- O Batismo cristão acompanhado do “catecumenato”;
- O louvor de Deus nas horas litúrgicas, a partir do costume hebraico de fazê-lo três vezes ao dia (de manhã, ao meio dia e ao final da tarde);
- Início da passagem da língua litúrgica do grego para o latim, conforme este foi se tornando uma língua incompreensível para a maioria das pessoas. Pensa-se que teria sido o Papa Dâmaso I (366-384) a efetuar definitivamente esta passagem;
- Passagem do local de culto das casas particulares para as “casas comunitárias”, das quais o melhor exemplar é a Doura-Europos na Mesopotâmia, construída nos anos 200 e transformada em 232 em domus ecclesiae, descoberta recentemente.
Estas casas se multiplicam em Roma rapidamente. Ottato de Mileto fala de mais 40 delas no início do século III.
No entanto, este tipo de construção não depõe contra o acento inicial do “Templo Vivo”, como Igreja, em contraposição à igreja = templo de pedra, que os cristãos quiseram marcar no início das suas Liturgias, celebradas em casas particulares. Uma prova disto é o tipo de arte litúrgica com que ornam Doura-Europos (Adão e Eva, Davi e Golias, o paralítico, a samaritana, o Bom Pastor) e as catacumbas (o sacrifício de Isaac, Moisés e a água da rocha, Daniel na cova dos leões, Susana, a ressurreição de Lázaro, o paralítico, o cego, a mulher doente, a adoração dos magos, o batismo de Jesus, a multiplicação dos pães, etc). São imagens bíblicas, lidas tipologicamente na linha da História da Salvação.
Mostram, portanto, uma espiritualidade profundamente cristológica, cuja interpretação do AT em linha tipológica de Cristo como o anti-tipo, ou realização plena dos fatos do passado, vai estabelecendo o cristocentrismo litúrgico que o Vaticano II tenta com toda energia recuperar através da reforma litúrgica.





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